quinta-feira, março 26, 2009

O teu olhar

O teu olhar atordoa-me.
És mestre de desconcertos na minha vida. Baralhaste e voltaste a dar.
Banal de inicio, em palavras soltas e sofregos de alma, fui-me despindo sem querer. Os silencios falados envolviam-me cada passo, ouvia falar de mim.
Os sentidos calavam a voz da razão, guerreiros da paz e dos silencios, adormeciamos aquecidos pela força de lugares comuns e pensamentos contrarios. Como se toda a vida se refletisse em ti e as tuas palavras fossem um espelho de mim. Contigo, ergui as minhas espadas e tornei-te o meu lugar querido.
Viajamos aqui, percorremos vidas em conjunto, transformamos em voz os silencios e calamo-nos em gritos de razão.
Vi-te sol e inimigo. Vi um mar revolto em que me quis perder e não voltar. Vi a chegada à partida, vi a caminhada sem esforço, vi o som de me deixar viver.
Guerreamo-nos em silencio, as nossas caras ferveram no toque dos dedos que teimavam em dizer. Ousamos querer muito mais do que o nosso olhar alcançava.
Desassossegaste-me e zangaste-te comigo, remexeste-me a convicção deste ser julgado anonimo e sem expressão. Despiste-me de outra ilusão, rasgaste a razão, fizeste-me mergulhar nesse mar revolto em dias de suposta calmaria.
Na tela que pintamos, dançavam corpos àvidos de vida e apaziguados de solidão, vivi uma vida contigo, antes mesmo de te conhecer. Foi tanto este meu querer que me atrevi a querer não ter. A aspirar cada pedaço do teu olhar, a ler a linguagem da tua calma e a força do teu querer.
Fomos grandes ao ponto de crescermos em cada passo silencioso, em que os sons e as cores se tornavam iguais. Ouço-te antes de falares, quis-te sem te ter, és meu sem o seres. És mar salgado e infinito que tomou agora o seu lugar.
És hoje a calmaria em dias de tempestade, és a certeza do sonho, a convicção das vontades e a força das verdades. És amargo de boca, planicie temperada, conteudo incompleto, metade do meu todo.
Foi grande esta caminhada impensada e orquestrada por madrugadas sentidas e despidas das presas das analogias e vontades. Nesta clareira iluminada, o abraço prolongou-se até aqui, enchi-te de mim para sempre sabedora de não teres fim.
Ensinaste-me o meu ser.
Aturas-te em mim.
És cada vez mais um mar sem horizonte definido. Meu amigo de verdade. Minha imagem por decifrar.
Hoje estás dentro de mim, desassossegas-me com o teu olhar do mesmo mar, demos as mãos em silencio, calamos a tempestade e adormecemos de mãos dadas. Saltamos as reservas do caminho e saboreamos o vento de cada momento, feito de tudo e de nada.
Estarei sempre no teu caminho, de lenço estendido, para além do silencio da estrada, feito do meu olhar de menina resgatada das feridas e dos contos inventados.
És grande meu amigo, capaz de saltar desse estrada, só para te encontrares comigo!

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