sábado, janeiro 23, 2010

Uma questão de sentido

Desimporta-me a importancia dos sentires distribuidos, dos pedaços de ser divididos em parcelas de terra cavada, os degraus horizontais, importam-me mais as marés, por perceber que entre tantas, só uma inunda a minha praia, importa-me mais a genuinidade de não saber das estradas de saber obtuso e impessoal.
Importa-me o sopro de vida que, num segundo qualquer nos ilumina no ser uno e diferente, no despertar mais forte que o dia, que o ser e saber.
Importam-me as quedas mais que as conquistas, os caminhos mais que as chegadas, importa-me cada sentido que me estende de não saber, importam-me fronteiras mais que reservas, unidade mais que ver.
Importa-me ser, única, especial, cega por cada horizonte ser o firmamento por que estendo as minhas mãos.
Importam-me palavras respiradas, mais que poemas, importa-me o meu olhar mais que a imagem.
Sou, porque saberia o quê? Se a vida me assiste a caminhada de vida até me despedir de mim? Se é do desconhecimento que parto para cada viagem?
Importa-me este sentir tão forte que se expele do meu corpo, que me entra, que me habita e sai de mim sem partir. Não sou dona de todo o meu ser, não me semeio, não me colho, por inteiro. Quem me dera escolher.
Respiro em margens verdes, saltos de alegria, de saber de desconhecimento, gritos de silencio e calmaria, e porém, não vejo de tanto que desentendo. E choro por isso mesmo, e rio mais ainda, porque entre a desimportancia saldada, sou fonte de não saber.

Se eu nascer nesta praia, que me banhe a maré viva!
Que me leve a razão e me permita viver, cheia.

Camino Interior


Temores, suspiros, quebrantos
que traen el llanto
Deseos,
esa extraña fuerza que me povoca.
Palabras,
Que se las lleva el viento y son de mi boca
Pensamientos malos que me envenenan
yo quiero librarme de esta condena
Y encender esa luz
que llevamos dentro...
Destellos, conectan lo puro
que llevo dentro
Sonrisas
calor y dulzura pa mis adentros
Miradas, que rozan la punta el entendimiento
pensamientos puros queme liberan
lleno de bondad y buenos sentimientos
Y encender esa luz
que llevamos dentro.
Chambao

sábado, janeiro 16, 2010

A noite fria lá fora, entrou pela janela sem perdão, a mesma janela com que a imaginação me dá noções convexas e a magnificência das palavras ditas, na necessidade de mantermos intacta a expressão.
Enquanto a ilusão abalava, de malas feitas, enquanto ripostava com todas as minhas forças, que não pode ser, não é assim, que eu sei mais que isso, cá dentro fervia a minha alma, de desilusão infinita.

Sai de mim, só para me assistir, pela ultima vez, ao meu esbracejar, parei para me ver chorar com a dor que me assiste, chorava a farsa, chorava as palavras vãs, chorei até já não ficar nada. Chorei sem lágrimas que as guardei só para mim, e as que cairam na minha cara, foram mais fortes e eu não consegui esconder.
Numa sala escura onde me mostraram irmandade, onde me quis crer ser verdade, desenquadrada por não ver, e eu vi, vi sempre, vi as mesmas capas, as mesmas farsas, vi bocas roucas de dadivas disfarçadas de alivio. Vi-me a mim, nas bocas presentes e mais ainda que achei ser reticencia.

Medo, medo é saber que tenho pela frente uma palavra obrigada antes de me entregar como sou, medo é acordar de manhã e aceitar que as minhas caraminholas não passam assim, nem a toque de faca nem palavras, medo é olhar em volta e não aceitar nada. Medo é ter que ouvir das bocas do mundo que não passa nada, e eu sei que passa tudo e eu vejo.
Medo é sentir que seria mulher se fosse mãe, e não sou, por mil motivos, medo é agradecer a verdade da boca de amigos e a seguir, estar comigo.
Medo é esta hipocrisia que eu antecedo sempre em credo à minha própria razão. Medo é a viagem que me espera até os meus olhos já não verem e a unica coisa que pedi não acontecer. Medo é esta vida que me leva e não faz mal, que eu gosto dela, mas não é isso, é o que está cá dentro, são as faces coloridas que o meu Deus me mostrou serem só mascaras.
Medo é ver os olhos famintos de quem nem me conhece, é não estar em lado nenhum, é construir por mim e a seguir ter esta capacidade de deitar tudo ao chão em toque de mágica, medo é acreditar do mais fundo de mim no que não existe, nunca existiu, não há.
E o que vai ser de mim assim? Vai ser, certamente uma qualquer caminhada, uma estrada qualquer, vão ser dias de mim e outros ausentes, vai ser o que sou e está cá dentro à espera não sei de quê.
Não quero ninguém
Não preciso de ninguém
Não preciso que queiram que eu fique bem
Eu vou ficar bem sem falsidades, sem analises, de consciencia, dei tudo o que sei e senti, em troca recebi, nada.
Não gosto deste mundo, não gosto de pessoas especiais, não gosto de salas escuras onde só há mentira, não gosto de ouvir a verdade vinda de fora. Não gosto de amoras, não gosto de mares sem sal, nem rios parados, não gosto de passaros que afinal são imagem, não gosto da corrente que passa por uma qualquer, não gosto do preço das palavras.

Eu, só pedi a verdade, só pedi que visses o quanto eu sou especial, não por dizer, nem fazer, é porque sou mesmo assim. E que cuidasses de mim, porque eu te ofereci o que tinha em mim e o que me faz.

Não sou convenção, nem está tudo bem.
Está tudo mal, está tudo errado, e é assim que eu quero que fique.
O resto é comigo

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

                      Álvaro de Campos

quarta-feira, janeiro 13, 2010

O sabor do medo

O sabor do medo é majestoso, é unico, como este sal molhado que não pára, não seca, não se cala. O desconhecido, por demais lido e adivinhado nas marcas na estrada e no passado que nos traz hoje, é fel com sabor a tristeza. Gritar alto o saber, é nada ser, nada sentir de tão forte que nos estremece e nos torna apenas vozes insanas de sentimento.
O meu despertar, foi tão forte que me cegou, que me fez arremessar longe cada pedra do meu instinto, que me anunciou a negação de razões, de imagens e heranças, que me ofereceu dias em que me via enfim entendida, acompanhada, já não era mais uma face altiva e sabedora, mais um, não era mágico de mim ou poeta, não era maior nem melhor, era a outra margem que o nevoeiro mostrava quando por vezes me vinha visitar. Era o reverso, o objecto, eram palavras minhas que soavam de outra boca, eram promessas silenciosas do alcance do que queria. O meu despertar foi de tal forma, que em mim, me despi de dentro e por fora, mandei calar razoes e conceitos, tive sede de saber, não saber, acreditar e desmentir-me. Tive uma vontade tão forte, que tomou conta de mim, um segundo, que me valeu, que me encheu de todas as coisas.
O sabor do medo, tornou-me pequena de saber, conhecedora da minha sede de o não ter, dos bailados passados no meu juizo, tornou-me capaz de mover pedras de lugar, incapaz de o negar. O sabor do medo trouxe-me relva onde via planicies serenas, trouxe-me torres de tempo que nao conheço, arvores tombadas em varandas  e musicas que julgava só minhas, trouxe-me pedir paz e receber guerra, pedir palavra, ter silencio.
O sabor do medo é mais cruel, tem mascaras que preferia não ter despido, tem mil palhaços emproados a cantar um fado que não existe, tem o egoismo implicito nas fachadas entoadas, nas palavras lançadas de quem mais conhece. O sabor do medo, fecha a cela da alma, escurece tudo.
O sabor deste medo é só um carrinho de choque, que me roubou o sonho mais bonito, que me movia, me orquestrava, é feito o mundo de farsa, de mentira, de eloquencia nas palavras em busca de estrelato, é a palhaçada da imagem.
Não desisto de mim, que o meu medo é são, é terreno, é capa sagrada contra a farsa da razão que afinal não é nada, o meu medo é o das coisas que são, que não mudam por mim, que arranco com cada lagrima que vier, com cada palavra que escrever, até passar, que não passa assim.
Mentiras, palavras, é tudo farsa, é tudo igual, é uma escada horizontal, é um jogo a duas mãos, e não quero nunca ter razão, quero chorar, quero sofrer muito, quero que me doa ainda mais, quero os meus olhos abertos, quero voltar a sonhar.
Não me interessam os porquês, não me interessa nada, não me interessa se pedi ou se mereço, quero sofrer tudo de uma vez, mais uma vez, o que faltava do que havia que se vá embora depressa, tenho pressa que passe, que venha o zero, o nada de verdade. Venha agua para chorar, venha o que houver, mas venha depressa.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Voltou o lado da terra que o mar separou, voltou com ela, um rio que corre e não pára.
Se assim, me quedo, sou profunda convicção que as correntes são imutaveis e que as minhas mãos  pequenas demais. Por isso, me aquieto e contento, e danço um bolero em sua honra.  Ao vento, ao mar cinzento e à Terra quente de outrora.
Volto nas bocas do mundo enevoado, sacudo a queda molhada e bato-me à porta em silencio.
Do mais fundo da minha alma, que seja este dia o rasgo ardente de calmaria e a partida adiada, que sejam escadas, estradas luzentes e empedradas de agua nascente, que seja a desistência que gera a vida e me adormece para sempre. Que sejam viagens, que sejam vidas!
Do mais fundo de mim, céu e inferno, me aquieto crendo.
Do mais fundo da minha alma, me calo de palavras que desnorteadas, não diziam nada. E não aceito gestos agradecidos ou despedidos, que o que fica mora em mim e o que parte , passa.
Em criança, não me lembro do dia em que não tenha batido com a cara no chão, caida do meu baloiço de corda num chaparro, e tanto que me ria, sem rede, sem nada. Foi o que me fez assim. Por me lembrar ainda, mais que mil estradas, beijos e abraços de faces agora concavas e opacas.
Amizade são duas aguas que se unem na curva do monte, amar é remoinho e mar revolto que mais tarde se amansa só por ver a madrugada, amizade são papoilas que se plantam na estrada para dar cor ao coração, amar é não saber nada. Menina bem comportada,...
Aguardam-me três semanas de mim, de analises justificadas e provas por mim, por mais nada, que dantes mimada e precisada de um abraço, sou hoje gelada, comportada.
Viva a vida ensaiada e a tese demonstrada, vivam os palcos de luz e o silencio libertador.
Se o silencio se faz, os gestos são sopros de alma que não se escrevem em palavras, seriam sentidos   nos passos, e no olhar que se cala.
Menina bem comportada!