sexta-feira, agosto 28, 2009

Proveitosas horas

Sem fugas, proveitosas horas que me arrisco, a estar comigo. A minha individualidade é o assumir deste vazio, amanhã será diferente, eu sei.

Traço caminhos, racionais, falo, questiono, renovo a convicção que ainda valho e a minha experiência tem peso, recebo votos de amizade renovada. Racionalidade!
O vazio é emoção, não se tapa justificando dificuldades, vazio cheio de nada que, de repente, se torna tudo. Proveitosas as horas em que falo comigo.

 
Nem eu colho migalhas, o que sinto é imenso, transborda de tanto, sendo especial fico vazia, e nestas horas que enfrento, encho-me das minhas histórias, prefiro assim.

 
Ontem tive medo, senti vontades adormecidas, senti-me enraivecida, esgotada, perdida. Não prescindo do que lutei tanto por alcançar, fora de tempo, tive que esgotar a renitencia deste ser que hesita sempre em acreditar, mas alcancei.

Não prescindo do tanto em que em acredito e me molda.
Não prescindo de calar as vozes que não me veem e castigam.
Não prescindo de me calar por parecer que as minhas palavras deixaram de ser expontaneas.
Não prescindo de me enfrentar.
Não prescindo do meu tempo e da convicção do meu querer.
Não prescindo do que sinto.

Este vazio que chama cruzadas de evasão, é claro, transparente, doentiamente dificil de suportar, aliar-se-á a outro, que das entranhas tenta, lembrar-me dos limites, da doença, todos os dias. Serão amigos desistentes um dia.

Proveitosas as caminhada com o meu amigo de sempre.
Proveitosos serão os caminhos.
Proveitosas horas que passo comigo.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Quero que saibas

Quero que saibas
Que os teus olhos tiveram o alcance de me verem
Que as tuas mãos despertaram sentidos que adormecera
Que cada gesto que me oferecias, eu guardei-o na minha vida
E trago-os comigo, revê-los-ei de vez em quando
Agora não.

Quero que saibas
Que o meu mar era azul
Que te oferecia as cores serenas das planicies no Verão
Que cada minuto que passamos juntos
foram vidas, feitas de nós

Quero que saibas
que guardo o teu semblante
o teu ar austero e tão meigo
que as palavras foram silencios
e os silencios histórias de amor
E só sabe falar de amor quem sente

Quero que saibas
que despertares ao meu lado
foi o raiar do meu Verão
que o cheiro a poejos no chão
de mãos dadas contigo
valeram mais que os gemidos
soltados, sentidos.
Quero que saibas
agora não.

Corrente Liberta

Extasiada e convicta, sofrida e serenada, ergo agora eu, as minhas mãos soltas perante o espaço. Destrui a fé, envergonhada pelo ultimo gesto de ilusão efémera, fugi, depressa, lavada a cara pela agua que soltei, gritei do fundo da minha alma.
Quero-me a mim.


Exasperada raiva que finalmente chega, soltei a minha voz, finalmente as palavras são minhas, brotam do mais fundo de mim, de uma lucidez renascida, estou viva, os meus braços erguem-se, o meu corpo estremece, estou aqui.


Ah, correntes libertas refrescam a minha cara, por fim, vejo, vejo tão bem. Entendo, sei, sinto, não quero saber, não quero ver mais.

Quero-me a mim, quero a minha verdade, o meu sonho, o meu direito a falar de mim, quero rir como ria, quero dançar para mim, quero ser pequena e não ter vergonha pela imensidão que guardo, quero falar alto, quero sair daqui.
Por fim.

Acarinho-me com o que gosto, leio, ouço, travo a minha luta, outra agora, guerreira de mim, reerguida do tempo que me assiste, no meu espaço, sem a ironia de quem insiste em punir mais, como se não fosse suficiente a dor que já sentiamos.
A dor que me assola, mata.
Nunca pedi nada.

Não quero nada.
Quero-me a mim.

Enebriei-me esta noite com pedaços do sonho verdadeiro, aquele em que me quebro, textos que me acarinham, imagens que procurei, palavras amigas, sitios que me habitam, gritei o mais alto que pude, estou aqui, em mim!

É este o meu verdadeiro patrimonio, o resto ilusão, o meu tempo passado, o tempo futuro, a minha vida e o meu despertar, estou só, sempre estive, a guerra foi-me delegada com medo da responsabilização, o meu mundo chama-me agora temente, oferecendo-me o que nunca tive mas mereci. O meu sonho, cansado divaga em prazeres reclamados e vazios que me feriam como a ele, punitivo.

Eu tinha razão em acreditar que o sonho não existe e descobri que o meu mundo deve ser a caminhada que começa aqui na direcção que, cega, sempre vi. E assim, o meu mundo e o meu sonho. E eu escolho-me a mim!
A banalidade de ver reflexo do que se é, do que se insiste ser, a regra do tempo que se impõe, estando ausente, a humilhação do meu sentir, de não se conjugarem verbos, mesmo distantes e entendidos, e acreditar, em quê?
Em mim!

quarta-feira, agosto 26, 2009

Maré vazia

As vagas, visitam os pés que enterrei na areia, presa em terra, torno-me enseada, dos remoinhos decrescentes, desistentes, descrentes... Pés cravados e maré vazia.Outrora, rodava um pé na areia e achava conquilhas nestas marés. Hoje, enterro os sentidos e olho o mar.

Vejo-o abraçar ilhas, conduzir barcos rumantes, amigar-se de ventos e estontear-se contra as arribas, não consigo deixar de sentir a solidão deste mar imenso, enquanto me assola a imaginação da sedução das conquistas.

Em silêncio, na minha praia, deserta e agora seca, as gaivotas ensaiam voos picados, as arribas escondem o Sol quente, areia fria, os ventos riem dominantes. Sou corpo em areia sedimentada, iluminada de uma frieza fulminante. Solto lágrimas libertadoras, desenterro-me.Emerge em mim...
O meu mar será sempre de um azul brilhante.

Cada grão, meu património, cada história, companhia, despida, fico cheia de uma vida que mereço, deixo uma pedra branca em cada passo, em direcção às planicies que me encantam, em busca do calor e do meu tempo.

As marés vazias precedem marés cheias.

terça-feira, agosto 25, 2009

Correntes Contrarias

Turbilhão vazio, imensidão oca e contigua, reclamo passadas vividas, pisadas minhas, feitas de sentido, de mim!

De mim, cheia de vida, sem tempo, eu sei, desfocadas e tão sentidas, mais que palavras, mais que silencios, gritavam alto os gestos que eram para ti.

O meu amor sentido, despertar de uma vida merecida, erguida de sonhos e conquistas, de tempos demorados e outros descompassados.

Hoje falo das correntes contrarias, das que tu julgas não conseguir ver em ti. Entendo o mesmo medo, entendo a solidão da ironia, entendo os rasgos dolorosos, ardentes da mente. Entendo os momentos adivinhados, mesmo que errados, em que a fé te abandona e a raiva te cega.

Entendo o tempo. Entendo.

Vejo te agora, de volta à barca, cega e calma, e cego tambem o olhar.

Embarco eu na junção das correntes, à porta do mar que não chegamos a navegar.

Correntes Adversas

No meio do meu caminho, cansada e desavinda, com a vida em desalinho, sento-me, naufraga das correntes adversas, da ironia da minha vida, no areal da minha praia deserta. A dormencia, não era um sono qualquer, fruto de gestos inconsequentes e caprichos carentes, era uma mulher perdida, entre o sonho e a vida, entre limites finitos, vontades e medos. Dormi dias, anos talvez, perdi-me do tempo, naufraguei nas correntes adversas do meu pensamento. A minha ausencia desperta, pedia caminho.

Esfrego os meus olhos de espanto, de corpo dorido, perdida nas descobertas e suspeita em palavras sofridas, ainda mais perdidas. A magnitude do meu olhar desenquadrado, quase me enlouqueceu e turvou a visão, como um fogo rasgado no ar, indecifravel, incompreensivel. As minhas mãos inquietas, a loucura dos meus gestos, pequenos, incongruentes, na escuridão, as minhas mãos que buscavam luz, uma luz qualquer, um alumiar de vida que guiasse um caminho que preciso percorrer.

Aos olhos que não veem, apenas olham, adquiri a imobilidade da pedra, atrasando lançá-la à terra, semente divina da qual germinaria a civilização, ideias claras, forte convicção, desgarrada e sem chão, confiada a missão solitária de mudar e governar a terra, fundar a civilização plena e glorificar os dogmas da criação e destruição. O meu sonho, levantar-me e caminhar.

Quebrou-me a desresponsabilização, a descoberta da banalidade, é minha esta cruzada, a alvorada da minha civilização, imposta pelo varejar do vento, do sol que descobri num abrir de porta, um sol que me esperava por tras da neblina. que agora se encobriu e apagou. Soltam-se verdades amigas, bandeiras de outrora, o sonho comanda a vida, mas as passadas seguidas não se transformam.

Foram muitas as horas em que tentei refrear um emergir vespertino, temente de não ter lugar, que obrigava a minha mente a rodopiar como se me lançasse num pião, tentando compreender, indagando a ironia, buscando ajuda e certeza nos meus passos. Certeza tão minha, de cada pedaço se erguer em busca deste sol, das epopeias de ideias, em noites claras, desafiando a minha razão.

Medito agora, "na libertação dos destroços do meu passado", o concilio divino, assiste, calado, em jeito de cortesia, invadem-me descobertas poeirentas, não me chamam, implacaveis, soltam gritos estridentes que me invadem e inundam de medo e desatenção.

Mergulho os meus pés na areia quente, este espaço reflete a minha solidão antes de me erguer, dilacerada e de cara ardente, esqueço as mãos dadas, relembro a minha caminhada, nas esquinas sombrias, invejando os casais abraçados e os abraços que não sinto.

Sei não poder falhar, rogarei aos deuses a capacidade de lamber as feridas que teimam em sangrar, debeis, os pedaços caidos, o despertar dos meus sentidos, olhos perdidos, caminharei em silencio, troco o meu mundo, recebo em volta, nada mais senão eu... O direito a falar mais alto, o direito de me mostrar, como sou, pequena...
O meu lugar....

Seguirei os loucos que, destemidos, penetram nos reinos povoados por demonios, confirmando a sua autenticidade, buscando o sonho, rumo à irracionalidade guardiã da razão. Leio a "Coragem para mudar" partidária, esquerdista, baseada em experiencia não vivida, observada, raiada de julgamentos certeiros.

Percorro a vida, em vivencias terrenas, desordeiras e desconexas, as minhas, não deixarei serem promotoras da minha essencia, o que sabia, sei mais hoje, jogada injusta, mas minha.

Estou cansada, sinto-me cheia e vazia de mim, sinto-me sozinha à ombreira da porta que abri, que já não é minha, rogo ao vento que leve este medo que me assola, desconcentra, ajusto-me na convicção, deito um olhar à desresponsabilização, hei-de saber, um dia que esta semente de vida foi regada por mim.

Lançar-me-ei ao mar, como um dia sonhei!

segunda-feira, agosto 24, 2009

Correntes prometidas

Desci do alto desta serra, parei no meu canto e deixei que o vento me remexesse, abanasse o meu corpo, lavasse a minha cara que hoje permanecia molhada e quente.
O tempo, o tempo!
Esta porta aberta ao mundo que não conheço, tirou-me vida construida e deu-me um horizonte que aspiro e me derrota, da minha porta, nao me vejo. Porta que nem é minha, semi aberta, de rompante, num abrir tão cheio de luz e de vida, da vida que conheço, que sonho.
No meio do mar, antes do horizonte, erguia-se um barco à deriva, sem rumo e em silencio. Daqueles silencios quase ensurdecedores, ao longe vi para além da bandeira hasteada, do leme solto,vi que me acenava despropositadamente, como se pretendesse mostrar que não via, não queria ver. Vi a magia das correntes prometidas que me falavam do mar, que rumavam perdidas mas na minha direcção.
Dei dois passos, descalcei-me e saboreei a areia, deixei que a agua me inundasse, fria, aquecendo a minha vontade de me inundar desse mar, na corrente convergente, rumo ao sol distraido que brilhava por mim nesse dia.
(continuará, um dia...)

Rasgo de Fogo

Os teus olhos hoje, viam-me, em jogos de palavras que ensaiamos num percurso já longo. Falavamos de emoções em jeito de silencio entoado em nós. Vi-te raiado do reflexo dos meus gestos, distante, conquistador do momento em que o "não" ecoa em gritos libertadores e empiricos, arrancados à razão que me assola e repreende.

Ajustam-se em mim as imagens denegridas do teu olhar, têm espaço para crescer, e eu, rendo-me a esse olhar que me atordoa, que já não entendo.

Entendo o teu corpo, a tua voz, entendo a razão. Hoje tão perto de ti, perdi-me na distancia que nos separa, e este rasgo de fogo que entrou agora em mim, despertando cada sentido, erguendo as muralhas do finito e do silencio, este pleno entendimento que o meu tempo findou. Obra minha, embargada até aqui, em jeito de laços e gestão falhada.

Ceguei-me em ti. Encontrei-me e não me sei ver, não tenho as mãos suficientemente grandes, julguei poder ve-las crescer ainda, julguei acreditar, acreditar mais ainda que esta semente demente de espanto e medo há-de acabar por morrer, que sou ainda capaz de lutar por mim. Sou racional ao ponto de ter tanto de medo de me perder quando já perdi. De acabar o que não começou e deste esvaziar do próprio vazio tão cheio de ti.

Quero que saibas que te amo em cada minuto do meu dia, quero que saibas que preciso de não te ver, porque quando te vejo, cego-me a mim, preciso de ver a minha obra erguida, uma casa branca, só minha, com flores à porta e o meu amigo comigo. Preciso de me erguer a mim!
Quero que saibas que entendo, que estou em ti, estarei sempre, que "tens razão"!

sábado, agosto 22, 2009

Entardecer

Entre a tarde e a noite, existe um momento que ultrapassa o próprio tempo.
Nestas planicies abençoadas, onde tudo pára e nada está parado, neste verde, nestes sobreiros com que cresci, esse instante funde-se nas cores de um terno anoitecer. As cores...
Faço o que a minha vontade me diz, paro e procuro beber tudo o que ali me é destinado.. É meu!
Poderia correr a vida inteira para encontrar um lugar assim no tempo!

Cresci aqui, sou fruto destes entardeceres, aprendi a calma contida neste viver, aprendi a dançar neste chão ancestral que açoita sempre quem insiste em não perceber..

Aprendi a deitar-me debaixo de mães grandiosas que sombreavam a luz e o calor, aprendi a dormir ao som do silencio, aprendi a não saber!

Neste momento, glamorizo a caminhada para aqui chegar, e parar, relembro o meu passado em que tudo era demasiadamente grande para os passos que sabia dar. Vejo agora como o tempo me parou.
Tenho saudades de mim, como desta estrada quente, tenho uma vontade tão grande de me abraçar por despida que estou, doi-me esta verdade como frases lançadas ao longe, erguidas de alguém que não sou mas que protagonizo, não sei porquê.

Lanço gritos de silencio. Não me ouço, não me vejo, inerte no tempo contado.

Ilusão

Tinham soprado ventos fortes e o frio ainda era sentido nas mãos que teimavam em não aquecer.
As ultimas horas, feitas de olhos cansados, tinham sido proveitosas, mas uma estranha sensação de vazio dilecerava-a desde o dia anterior.
Ouvira noutra boca, palavras suas que ousava calar sempre que ouvia. Eram rajadas de outro vento, tormentos tornados verdade , a simples negação desta forma de existir.
Saboreava a sensação de estar assim, de se permitir não querer saber.
As interrogações há muito que se haviam tornado arrogantes e desconexas.
Não queria mesmo saber. Queria viver, queria continuar sem parar antes para pensar.
Há perguntas que só fazem sentido caladas.
Qualquer resposta não vale nada.
Faltava qualquer coisa, não era só aquele vazio a que já estava acostumada, era um misto de opressão e desilusão.
Esta dor que a transborda agora, que desperta o desencanto de uma verdade postuma, sem dia, sem hora, fruto erguido, semente já morta...
Que doce a ilusão...

Lua Adversa

Cecilia Meireles

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

sexta-feira, agosto 21, 2009

Song to the Siren

On the floating,
shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.

And you sang
"Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."

Here I am, here
I am waiting to hold you.
Did I dream
you dreamed about me?
Were you here
when I was full sail?

Now my foolish boat is leaning, b
roken love lost on your rocks.
For you sang,

"Touch me not, touch me not,
come back tomorrow."
Oh my heart,
oh my heart shies from the sorrow.

I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?

Hear me sing:
"Swim to me, swim to me,
let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."

Elizabeth Frazer

Hoje

Hoje li, escrevi, recordei, sonhei.
Tenho saudades.
Tenho tantas memórias bonitas que me aquecem...
Palavras que me reconfortam, sentidas e pronunciadas por quem está em mim.
Eu própria tento em vão, engrandecer-me, dar-me o abraço que precisei tanto, soltar-me nos sorrisos do meu passado.
Sinto que caminho, nas pegadas antes ensaiadas, agora só minhas, arrisco uma vez, aprendo, sei que vou tropeçar de vez em quando, mas aspiro a escuridão que me ilumina.
Sou menina, sabes? Sei que sou diferente, meio louca, ainda demencia não experimentada, não sei sentar-me direita, não sei estar na maior parte dos lugares, sou envergonhada quando me olham de frente, aprendi cedo a fugir perante os reparos do que é "estar como deve ser".
Na maior parte das vezes sinto-me sozinha e esquecida, mas há algum tempo dei com os meus olhos a brilhar ao espelho.
Sei que as minhas palavras são meio desfocadas, sentidas e por isso, desconexas a quem as lê.
Não preciso de falar alto, só de me ouvir quando estou assim, conversar comigo e recordar, cada lugar, cada momento que ergui para mim, de pó sedento e terra árida e que germinou em cores feitas assim, sem nexo, sem tempo, mas guardadas em caixinhas de tesouros que me valem nos momentos em que entro em mim.
Tinha medo da solidão que nunca me atrevi a saborear, parecia-me escura e fria.
Mas sabes, hoje lembrei-me que tenho luz em mim, que o meu sorriso me é devolvido em mil mensagens qua ainda não sei ler. Que a solidão não é exclusão, remissão, omissão, tem vida, a minha alma já por lá viajou e contou-me histórias já minhas. Tenho medo porquê?
Basta que ame como te amo, sabes? Mesmo que não, não prescindo deste sentir que seria sempre tão meu, como a primeira voz brotada quando acordo, depois de sonhar contigo, mesmo havendo raios de azul e loucuras preferidas, nunca me demoveriam de te amar assim. Faz parte de mim, sabes?
Descobri contigo que amar é mais que eu, tão mais que resposta, é cada momento que não penso e tu estavas comigo, é aquele luar que do outro lado me mostrava a tua face, de olhos descobertos, e se calhar, tens razão, és uma imagem só minha.
Vou guardá-la então para mim.
Por isso, sou a "mulher" mais feliz do mundo. A meio do percurso, descobri que sou capaz de amar assim!
Hoje segurei o que tinha guardado para ti, dei um nó à volta do meu braço, e encerrei assim a minha mais pura verdade, acenei ao acaso e lembrei-me de tantos que não sentem assim.
As palavras concretizadas, as cruzadas de condão, o poderio da razão, fechados no lago que cruzei, ficaram onde pertencem, de mãos dadas com as vivencias sonhadas e reclamadas quando, ao olhares em frente, ver-me-ias a mim, feliz, sem ti mas a amar-te mesmo assim.
Os sitios que sonhei ir contigo, visitei-os contigo em mim, as palavras que quis ouvir, ouvi-as no silencio, os gestos que reclamei de mim, ficam comigo, a verdade do que sinto, tremo só de pensar em ti, não são os gestos meigos ou firmes, nem o meu respirar, és tu, a minha visão de ti, que às vezes penso que nem tu vês, perdido como eu, nas razões do ser, do estar ou não estar, nas fugas ou encontros de outros estares mais quentes que eu, no medo igual ao meu,..
Hoje sonhei contigo. Olhavas e rias só para mim.
É assim que ficas em mim e, se um dia te quiseres visitar, na forma como te vejo, pensa que há uma alma pequena que te guarda.
Entendes que nunca serás nem besta nem bestial, nunca terás menos que o que sinto e que sei se transformará, com o tempo, sei também que te quero bem, que cegarei a raiva de te ver azulado ou igual aos outros, nessa altura, olharei para mim, sei que te amo como não amei ninguém e falo agora claro, sem imagens que não a tua, a que vejo, a que sinto, sei que corri para ti e não estavas mais lá, é irónica a minha eterna zanga com este meu tempo descompassado e que, mesmo assim, teimo em entender, desentendendo.
Os jogos que te erguem e sustentam, a verdade que ocultam e que vi algures, sei que escondem tanto mais, sei que nas certezas que me apontas, lanças as mesmas chamas sedentas de coragem, tua, minha, do tempo que foi, do espaço ao qual não volto mesmo que a seguir roa as unhas por inteiro.
Vou me lembrar de ti assim.

Almareada

Estou estafada, calmada, almareada.

Odeio quem me julga sem saber, odeio quem me adjectiva sem ver, odeio falsos entendedores e atiradores gratuitos de venenos transparentes. Odeio o enaltecimento circunstancial a qualquer custo, detesto partidarismos e filosofias demarcadas.
Os diminutivos existem como existem as novas vagas teoricas a que todos aderem. O que hoje é ser diferente e secreto, é só e apenas alimentar as divisas, a esquerda e a direita, o junkie e o betinho.
Ser-se só não existe, tem que se ter um rótulo e ser julgado, adjectivado e enquadrado num grupo ou grupinho. Ontem os betinhos faziam sucesso, hoje acorremos ao avante e aclamamos a utopia dos inversos. Hoje fica bem ser diferente.
Que tal a coragem da fraqueza de não saber? Que tal gostar dos inhos por sentirmos carinho? Somos mais pequenos?
Que tal olharmos nos olhos de pessoas, fracas, errantes, almas sem nexo, que sentem antes de entender? Que tal sermos mesmo especiais?
Até o teu principio e o teu fim tem que ter um nome que atribuis à dor e ao engano, tanto como à paixão e ao desengano, até amar é pautado.
Vou pedir ao teu Deus que te devolva à força do vento, que encontres ombros, e raios de luz, que te descanse, que te refaça facilmente incapaz mas audaz e livre.
Eu gosto de todos, ricos, pobres, velhos e novos, esquerdinos e destros, gosto dos loucos e dos sabedores, gosto de me sentir aqui sem nunca saber o que sou. Gosto de ao menos poder aceitar.
Estive numa quinta com todos e eramos todos assim, despidos do que trouxeramos e construiramos, eramos pedintes de liberdade em simplesmente nos ser devido ser. Estive numa rua sobre um rio de esgoto e vendi-me em troco de mim, estive sentada em cadeiras de mogno e fui servida e vendi-me na mesma, estive trocada pela vontade de não cair, ouvi gregos e troianos e não aderi, debruço-me na lama que gosto e aceito uma cama de linho a seguir. A dificuldade é ser assim...?!
Sei inundar-me de água quente e já sofri em frente a um poço de agua gelada, hoje recordo esses sitios onde passei, sem treguas, sem magoa, aprendi.
Aprendi com os homens por que passei na minha vida, justos, cavalheiros, fortes, bandidos, lindos e inteligentes, eram homens a quem me dei sabendo serem tão mais que isso. A primeira imagem é falsa, a segunda é apaixonada e termina na certeza do desencanto. Mas porra, aprendi, aprendi a não confiar, a defender-me, e odeio ser assim.
Gosto dos falsos por serem verdadeiros e desminto os verdadeiros em busca de serem falsos. Gosto de saber que não há tipificações, há aparências e afinal é tão mais facil dizer alto ... "Eu sou assim". É comodo, limita-nos e ganhamos a façanha de julgar.
Eu sou falsa, desminto-me todos os dias mal acordo, o que sei hoje, amanhã reinvento, sou birrenta e carinhosa, sou rica e pobre, sou filha do sol e da lua, cresci a ver amor e engano, desaprendi a palavra acreditar, Amo-te e não te ouço. Tu não sabes, porque já sabes.
As tuas mãos grandes, adjectivadas, seriam iguais a outras que me roubaram o meu encanto de menina, o teu condão seria denominado perdão e o teu olhar brilha tanto como o meu, mas tu já sabes demais de mim. Sinto o que sinto, ponto!!!
Apetece-me ser outra Sandra, confundir-me com uma falsa betinha ou então voltar às ruas escuras que me atraem tanto, apetece-me desapaixonar-me porque em duas horas, deixei de ser feliz com o que sinto... E Vês? Sou o quê? Antes e agora? Parva? Beta, falsa sabedora ou ignorante?
Estou almareada com tanto dom, tanto conhecimento mais que empirico, de mestre ilustrado e "experiente".
Sou o que sou. E se sou parca em acção, viva ! Sou lenta também... E chama-me burra por ao ver, nem entender... Há gestos meus, só meus que no teu conhecimento quase pleno nem soubeste ver. Deve haver um nome para isso também!

Escrita há muitos dias

Do outro lado da Lua


Permaneço imovel na escuridão
Amanheceu
E guardo em cada mão,
um laço sem tempo, nem regaço
Sinto água que se move
debaixo dos meus pés descalços
Água fria, transparente
Sem reservas
Sem me ver.

Passos soltos
Sopros,
Laços
Do outro lado da lua
Vejo-me cheia, tua
Naufrago nas aguas que correm
Devolvo-me à corrente
De saudade.

Dias

Ontem cruzei-me com uns olhos tristes, vidrados, embaciados, lembrei-me que os vi antes, onde não havia noites nem dias, era metade vazia, engasgada pela clarividência cega e moribunda. Baixei eu os olhos, dei-lhe o que tinha, daria quase tudo. Já não se usa o CM em canudo, basta a mão, já sabemos, os passos que percorri foi a pensar naquela vida, na verdadeira solidão acompanhada de um pedaço de veneno todos os dias, olhei para trás, olhei-me numa montra, e atrás dela, um livro antigo de Balzac e em baixo um escrito que me esqueci. Os olhos já não estavam, parei, curvei-me no chão à procura do que nunca encontro na confusão da minha mala, acendi um cigarro e ouvi, calada, ouvi a voz da minha cidade.

Escrita há dias!!!

Caminho


Tento fechar nas minhas mãos as forças estritamente necessárias para a sentida compreensão.

Ornamentada de minutos ocupados, de simples passos num qualquer sentido, vou ouvindo silencio em voz de razão, vou guardando a saudade, calando uma desnorteante vontade. Mantenho a força a qualquer custo, arte demente.
Vou andando.


Assimilei os códigos.

Desfaço-me na margem de cá, na simples imensidão que eles ditam, recolho os meus, pedaços, sentidos. Retenho a imagem de uma ampulheta caida, instrumento adverso, já sem vida. Coloco-me ao lado do meu tempo, apertei-lhe a mão, arrisco confiar-lhe sentido.


Esqueço a reacção, aquela minha eterna inimiga.

Desgastada, tambem eu sem vida, oponho-me ao protagonismo.

Antes lancei-me em queda livre, arranquei-me de mim até entender, reler tudo do inicio, juntar os espaços e recordar.
Assola-me a loucura da lucidez agora.


É hora não minha.

É nova a hora, nunca tracei o caminho, e nesta terra sem vida, remexo, estremeço, só isso, em busca da minha, olho por algo tão maior e de facil compreensão cujo reflexo não peço, não pediria, por essa imagem caida.


Quero muito mais que isso, quero o tamanho que tem, quero a vida, o caminho sonhado e sentido não foi percorrido, não tem expressão.
Invadem-me em tempo de fraqueza, imagens vividas, agarro-as, peço-lhes vida e atiro-as em seguida à corrente.

A minha avó está de partida e o meu corpo ressente ainda agora cada visita, em forma de dormencia e vazio para a seguir me assolar de culpa por não ser diferente.
O meu pai ontem lembrou-me que me adora e tem saudades minhas. Tem razão!
O que pensava ser distancia, invade-me agora em multiplas formas de reacção postuma.
Rezo pela cruzada do meu tempo, apetece-me pedir desculpa à vida, infantilidades que me fazem como sou.


Estou desligada!

quinta-feira, agosto 20, 2009

Quem

Não faço ideia quem é a personagem.
Mas de onde é que veio este locutor do Canal do Benfica???

quarta-feira, agosto 19, 2009

Às voltas...

Sou só eu que tenho a sensação que estamos empenhamos na estupidificação colectiva???
Alguém tem visto aquele programinha do João Baião (que por si só já é anedotico) nestas tardes? Acho que se chama Há Verão!!!



E assim se passa a palavra, ou não!!!!

quarta-feira, agosto 12, 2009

Tempo

O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.

Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava.
Era tua a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto.
Era a tua pele.

Antes de te conhecer,
existias nas árvores e nos montes e nas nuvens
que olhava ao fim da tarde.

Muito longe de mim,
dentro de mim, eras tu a claridade

José Luis Peixoto