sexta-feira, novembro 12, 2010

Desfolhada




Corpo de linho 
lábios de mosto 
meu corpo lindo 
meu fogo posto. 

Eira de milho 

luar de Agosto 
quem faz um filho 
fá-lo por gosto. 


É milho-rei 
milho vermelho 
cravo de carne 
bago de amor 
filho de um rei 
que sendo velho 
volta a nascer 
quando há calor. 

Minha palavra dita à luz do sol nascente 
meu madrigal de madrugada 
amor amor amor amor amor presente 
em cada espiga desfolhada. 

Minha raiz de pinho verde 
meu céu azul tocando a serra 
oh minha água e minha sede 
oh mar ao sul da minha terra. 

É trigo loiro 
é além tejo 
o meu país 
neste momento 
o sol o queima 
o vento o beija 
seara louca em movimento. 

Minha palavra dita à luz do sol nascente 
meu madrigal de madrugada 
amor amor amor amor amor presente 
em cada espiga desfolhada. 

Olhos de amêndoa 
cisterna escura 
onde se alpendra 
a desventura. 
Moira escondida 
moira encantada 
lenda perdida 
lenda encontrada. 
Oh minha terra 
minha aventura 
casca de noz 
desamparada. 
Oh minha terra 
minha lonjura 
por mim perdida 
por mim achada. 



(Nuno Nazareth Fernandes 
Ary dos Santos) 

Sem comentários:

Enviar um comentário