quarta-feira, janeiro 13, 2010

O sabor do medo

O sabor do medo é majestoso, é unico, como este sal molhado que não pára, não seca, não se cala. O desconhecido, por demais lido e adivinhado nas marcas na estrada e no passado que nos traz hoje, é fel com sabor a tristeza. Gritar alto o saber, é nada ser, nada sentir de tão forte que nos estremece e nos torna apenas vozes insanas de sentimento.
O meu despertar, foi tão forte que me cegou, que me fez arremessar longe cada pedra do meu instinto, que me anunciou a negação de razões, de imagens e heranças, que me ofereceu dias em que me via enfim entendida, acompanhada, já não era mais uma face altiva e sabedora, mais um, não era mágico de mim ou poeta, não era maior nem melhor, era a outra margem que o nevoeiro mostrava quando por vezes me vinha visitar. Era o reverso, o objecto, eram palavras minhas que soavam de outra boca, eram promessas silenciosas do alcance do que queria. O meu despertar foi de tal forma, que em mim, me despi de dentro e por fora, mandei calar razoes e conceitos, tive sede de saber, não saber, acreditar e desmentir-me. Tive uma vontade tão forte, que tomou conta de mim, um segundo, que me valeu, que me encheu de todas as coisas.
O sabor do medo, tornou-me pequena de saber, conhecedora da minha sede de o não ter, dos bailados passados no meu juizo, tornou-me capaz de mover pedras de lugar, incapaz de o negar. O sabor do medo trouxe-me relva onde via planicies serenas, trouxe-me torres de tempo que nao conheço, arvores tombadas em varandas  e musicas que julgava só minhas, trouxe-me pedir paz e receber guerra, pedir palavra, ter silencio.
O sabor do medo é mais cruel, tem mascaras que preferia não ter despido, tem mil palhaços emproados a cantar um fado que não existe, tem o egoismo implicito nas fachadas entoadas, nas palavras lançadas de quem mais conhece. O sabor do medo, fecha a cela da alma, escurece tudo.
O sabor deste medo é só um carrinho de choque, que me roubou o sonho mais bonito, que me movia, me orquestrava, é feito o mundo de farsa, de mentira, de eloquencia nas palavras em busca de estrelato, é a palhaçada da imagem.
Não desisto de mim, que o meu medo é são, é terreno, é capa sagrada contra a farsa da razão que afinal não é nada, o meu medo é o das coisas que são, que não mudam por mim, que arranco com cada lagrima que vier, com cada palavra que escrever, até passar, que não passa assim.
Mentiras, palavras, é tudo farsa, é tudo igual, é uma escada horizontal, é um jogo a duas mãos, e não quero nunca ter razão, quero chorar, quero sofrer muito, quero que me doa ainda mais, quero os meus olhos abertos, quero voltar a sonhar.
Não me interessam os porquês, não me interessa nada, não me interessa se pedi ou se mereço, quero sofrer tudo de uma vez, mais uma vez, o que faltava do que havia que se vá embora depressa, tenho pressa que passe, que venha o zero, o nada de verdade. Venha agua para chorar, venha o que houver, mas venha depressa.

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