sexta-feira, março 05, 2010

Já me chamaram arrogante e com mau feitio, não me importo, é assim que me gosto.
De nariz empinado, entrei naquele edifício que transpira tanto do que normalmente não quero ver. As sapiências de bata branca, passeiam-se por entre depósitos de macas espalhadas ao acaso. É por isso, que vou logo relembrando e chateando, acompanha-me a duvida se por acaso se esqueceram que estamos ali.
Devia haver um ecrã com os tempos de espera, está apagado, sobrecarregado, imagino; falta-me o ar ali dentro, falta-me quase tudo o que preciso para me sentir plena.
Espero, leio, espero, desespero, jogo umas palavras que nem sinto por ali, e ouço um murmurio gorgolejante numa caixa escondida atrás da maquina de fritos e salames, que sempre questionei o que faz ali.  O ruido era o meu nome. Obviamente que o deveria ter ouvido. O axioma é que estariamos alegremente a mastigar Cheetos e de ouvido apurado no meio dos queixumes. Não foi o caso, não ouvi, não é da febre, nem da vontade de vomitar de 5 em 5 minutos. Não se ouve, ponto!
Uma migalha de rabo de cavalo, grita, rebentando a escala, o meu nome. Levanto-me e olho-a. "Não ouviu?"
Poderiamos debater ali o fundamento do ser e a falta de paciência que tenho para isto, mas ergo mais o nariz, passo por ela e não respondo. Apetece-me vomitar e sair dali.
Sempre achei que este sitio devia ter musica ambiente, Mozart e Chopin, devia ter quadros coloridos e paredes de contraste. Mas o que interessam os estudos sobre isso?
Afinal, a chamada, era só para me sentar lá dentro e voltar a esperar e a desesperar novamente.
A minha mente vai ficando dormente, longe, não penso, não quero discutir comigo coisas que não me sei explicar. Desde manhã que um formigueiro me percorre as veias. Penso na pressa que tenho e tomar conta de mim.
Duas horas depois, tenho dois frasquinhos de soro por cima da cabeça. Enjoo. "Está sozinha?". E porque não haveria de estar? O mundo mudou de sitio? O homem da maca ao lado, olha-me fixamente, não sei se me faz olhinhos ou se tem algum problema. Como estou num hospital, tudo lhe é devido, por isso, faço má cara, já a tenho mesmo..
Cá fora, respiro, molho a cara, cumprimento a chuva, gosto dela, sempre gostei. A minha cara ferve, o meu estomago ainda negoceia o que fazer comigo e, ouço uma voz limpa, o contraste disto tudo. Olhei, um vulto imponente, o olhar conhecido, nesta cidade silenciosa de musica e de espaço sentido. Falei o que a minha boca quis, segurei os ombros por cima do peito, recolhi as mãos, baixei o nariz. 
E ali estive, a ouvir falar de mim, a perceber o principio da meada. Estou carente de mim, sedenta de uma pagina branca. 
Amanhã volto para tomar mais conta de mim, aqui e ali, e onde me devo. Porra, sou a S. ou sou uma restea?
Sou eu, de mau feitio e nariz empinado, mas tão mais que isso.

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