sexta-feira, agosto 21, 2009

Almareada

Estou estafada, calmada, almareada.

Odeio quem me julga sem saber, odeio quem me adjectiva sem ver, odeio falsos entendedores e atiradores gratuitos de venenos transparentes. Odeio o enaltecimento circunstancial a qualquer custo, detesto partidarismos e filosofias demarcadas.
Os diminutivos existem como existem as novas vagas teoricas a que todos aderem. O que hoje é ser diferente e secreto, é só e apenas alimentar as divisas, a esquerda e a direita, o junkie e o betinho.
Ser-se só não existe, tem que se ter um rótulo e ser julgado, adjectivado e enquadrado num grupo ou grupinho. Ontem os betinhos faziam sucesso, hoje acorremos ao avante e aclamamos a utopia dos inversos. Hoje fica bem ser diferente.
Que tal a coragem da fraqueza de não saber? Que tal gostar dos inhos por sentirmos carinho? Somos mais pequenos?
Que tal olharmos nos olhos de pessoas, fracas, errantes, almas sem nexo, que sentem antes de entender? Que tal sermos mesmo especiais?
Até o teu principio e o teu fim tem que ter um nome que atribuis à dor e ao engano, tanto como à paixão e ao desengano, até amar é pautado.
Vou pedir ao teu Deus que te devolva à força do vento, que encontres ombros, e raios de luz, que te descanse, que te refaça facilmente incapaz mas audaz e livre.
Eu gosto de todos, ricos, pobres, velhos e novos, esquerdinos e destros, gosto dos loucos e dos sabedores, gosto de me sentir aqui sem nunca saber o que sou. Gosto de ao menos poder aceitar.
Estive numa quinta com todos e eramos todos assim, despidos do que trouxeramos e construiramos, eramos pedintes de liberdade em simplesmente nos ser devido ser. Estive numa rua sobre um rio de esgoto e vendi-me em troco de mim, estive sentada em cadeiras de mogno e fui servida e vendi-me na mesma, estive trocada pela vontade de não cair, ouvi gregos e troianos e não aderi, debruço-me na lama que gosto e aceito uma cama de linho a seguir. A dificuldade é ser assim...?!
Sei inundar-me de água quente e já sofri em frente a um poço de agua gelada, hoje recordo esses sitios onde passei, sem treguas, sem magoa, aprendi.
Aprendi com os homens por que passei na minha vida, justos, cavalheiros, fortes, bandidos, lindos e inteligentes, eram homens a quem me dei sabendo serem tão mais que isso. A primeira imagem é falsa, a segunda é apaixonada e termina na certeza do desencanto. Mas porra, aprendi, aprendi a não confiar, a defender-me, e odeio ser assim.
Gosto dos falsos por serem verdadeiros e desminto os verdadeiros em busca de serem falsos. Gosto de saber que não há tipificações, há aparências e afinal é tão mais facil dizer alto ... "Eu sou assim". É comodo, limita-nos e ganhamos a façanha de julgar.
Eu sou falsa, desminto-me todos os dias mal acordo, o que sei hoje, amanhã reinvento, sou birrenta e carinhosa, sou rica e pobre, sou filha do sol e da lua, cresci a ver amor e engano, desaprendi a palavra acreditar, Amo-te e não te ouço. Tu não sabes, porque já sabes.
As tuas mãos grandes, adjectivadas, seriam iguais a outras que me roubaram o meu encanto de menina, o teu condão seria denominado perdão e o teu olhar brilha tanto como o meu, mas tu já sabes demais de mim. Sinto o que sinto, ponto!!!
Apetece-me ser outra Sandra, confundir-me com uma falsa betinha ou então voltar às ruas escuras que me atraem tanto, apetece-me desapaixonar-me porque em duas horas, deixei de ser feliz com o que sinto... E Vês? Sou o quê? Antes e agora? Parva? Beta, falsa sabedora ou ignorante?
Estou almareada com tanto dom, tanto conhecimento mais que empirico, de mestre ilustrado e "experiente".
Sou o que sou. E se sou parca em acção, viva ! Sou lenta também... E chama-me burra por ao ver, nem entender... Há gestos meus, só meus que no teu conhecimento quase pleno nem soubeste ver. Deve haver um nome para isso também!

Escrita há muitos dias

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